Evocação — arte contemporânea 2016-2018:
OSSOS — Exposição de João Castro Silva | 9 de Março a 30 de Abril I Museu Militar de Lisboa - Salas da Grande Guerra
Inauguração: 9 de Março às 17h30 (1)
“O combate das máquinas é tão colossal que o homem está muito perto de, perante ele, se apagar. Já muitas vezes, apanhado nos campos magnéticos da batalha moderna, me pareceu estranho e quase inacreditável que estivesse a assistir a acontecimentos da História humana. O combate reveste a forma de um mecanismo gigantesco e sem vida, recobrindo a extensão de uma vaga destruidora, impessoal e gelada.”(2)
Despojos de árvores, sobras de madeiras várias de origem industrial trabalhada por meios mecânicos. Reaproveitamentos de postes de vedação, desperdícios de poda, fragmentos de mobiliário, pranchas e barrotes reconformados e unificados na construção de uma forma. Madeira torneada e serrada. Um canhão.
Madeira de maré, branca pelo sal. Ossos esculpidos em talhe directo a partir de ramos de árvore recolhidos em praias. Cada ramo foi escolhido em função da forma singular que tinha, uma forma que remetia para a forma de um osso.
Ossos talhados em madeira branca de maré. Restos mortais que se recolheram num campo de batalha e que não se consegue identificar de quem foram nem em que partes do corpo se situavam.
João Castro Silva
Lisboa, 15.09.15
No âmbito do projecto artístico Evocação da I Guerra Mundial, que decorrerá de março de 2016 a novembro de 2018, inaugura-se no próximo dia 9 de março pelas 17horas, a instalação de João Castro Silva nas Salas da Grande Guerra do Museu Militar de Lisboa. Estas salas, feitas nos anos 30 e revestidas maioritariamente com pinturas de Adriano Sousa Lopes, um pintor que se voluntariou para a frente de combate como pintor de reportagens da guerra, estão imbuídas de uma densidade dramática notável, embora não valorizada pelos eixos modernistas de então, nem muito considerada pelos eixos modernistas de depois.
Neste espaço a escultura de João Castro Silva faz evocação dessa guerra e de todas as outras. Uma evocação comandada pela matéria que constitui um organismo que já foi vivo: a madeira da árvore. Essa madeira, modelada em arma de guerra, que deveria ser ferro, e indicada como relíquia de muitos, que deveria ser osso, evidencia a metáfora da fragilidade humana, enquanto companheira de muitas guerras universais e individuais. A madeira que finge ser osso e ferro acentua a debilidade dos meios de sobrevivência, desde as pontas de sílex ao nuclear, homenageando acima de tudo a inteligência humana capaz de congeminar soluções que lhe perpetuam o rumo.
Ilídio Salteiro
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