Festival de cinema “Olhares sobre o mundo rural”
18 e 19 de Dezembro de 2009
Promovido pelo Cineclube da Guarda, este ano em parceria com a Associação Luzlinar (Feital, Trancoso), este certame tem como tema, na sua quarta edição, “Fronteira e Memória”. Irá realizar-se no Teatro do Convento, em Trancoso, um edifício quinhentista recentemente remodelado para albergar eventos culturais. Esta edição conta, na sua programação, com o precioso apoio do realizador Pedro Sena Nunes, de quem vão ser apresentados dois filmes, um deles, “Tourada”, pela primeira vez. Destaque também para a exibição de “Cordão Verde”, de Hiroatsu Suzuki, recém nomeado para o Festival de Locarno, na secção “Ici et Ailleurs”. Pretende-se, mais uma vez, aprofundar a troca de perspectivas cinematográficas sobre a ruralidade, os seus códigos, as suas margens, as suas dinâmicas, a sua função de conservação das memórias e das identidades. Serão exibidas obras nacionais e duas do outro lado da fronteira, ao longo de dois dias de cinema, debates e uma mini feira do livro.
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PROGRAMA
Festival “Olhares sobre o Mundo Rural”
“Ruralidade: fronteira e memória”
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Dia 18, Sexta
21.00 – Abertura.
21.30 – Sessão de curtas e médias metragens
1. “A esquina do tempo”, Carla Alonso, Espanha, 2009, 30’, Cor
2. “Mulheres da Raia”, Diana Gonçalves, Portugal e Espanha, 2009, 60’, Cor
3. “Da Pele à pedra”, Pedro Sena Nunes, Portugal, 2005, 40’, Cor
23.45 – Conversa com Diana Gonçalves, a propósito do seu filme
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Dia 19, Sábado
15.00 – Sessão curtas
1. "um bando de passarinhos", de Zigud, 20'.
2. "Sabugueiro, Verão, 1050m", de António João Saraiva, 12’, prémio especial Serra da Estrela - Cine Eco 1995
3. "Gente de Fajãs" 59’, António João Saraiva, Grande prémio de Cinema Antropológico - Lisboa 2009
4. "Cordão Verde", 33', de Hiroatsu Suzuki.
17.30 - Debate, com a presença de
· António João Saraiva, realizador;
· Frederico Lucas, co-autor do projecto “Novos Povoadores”
(http://inovacaoeinclusao.blogspot.com/)
21.30
Primeira apresentação do filme "Tourada" (95’), de Pedro Sena Nunes, com a presença do realizador
23.45 – Encerramento
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Actividades paralelas:
Mini feira do livro, com edições do Centro de Estudos Ibéricos e Associação Luzlinar;
Instalação vídeo.
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OS FILMES
1. “La esquina del tiempo”, Espanha, 2009, 30’, Cor - Realização: Carla Alonso; Argumento: Carla Alonso/María José Debén; Produção: Simón Vialás
Sinopse: Uma aldeia e seus habitantes desaparecem com o Tempo. O mesmo que contém um relógio.
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2. “Mulleres da raia / Mulheres da raia”, Diana Gonçalves, Portugal / Espanha, 2009, 60’, Cor
Produção, Guião e Realização: Diana Gonçalves; Música Original, Som e Edição: Miguel Barbosa
Sinopse: Uma viagem às fronteiras do norte de Portugal e Galiza transporta-nos ao nosso passado mais recente, o contrabando local e a emigração clandestina eram práticas habituais nestas terras, aproveitando a proximidade do país vizinho.
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3. “Da Pele à pedra”, Portugal, 2005, 40’, Cor - Realização e Imagem: Pedro Sena Nunes Edição: Jorge Martins; Produção: Associação Vo’Arte
Sinopse: As montanhas verdes tentavam fugir dos fogos que ardiam a terra. No ar abafado, uma brisa conduzia-nos para um trabalho novo: explorar a Lavaria das Minas da Panasqueira, abandonadas há 15 anos e integrar a realidade da população. Uma aldeia deserta esperava-nos. Descemos no escuro a 450 metros para conhecer mineiros. Ouvimos histórias e dançamos com elas.
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4. "Um bando de passarinhos", Portugal, 2008, 20' - Argumento, realização, montagem e produção: Zigud; Poemas: Américo Rodrigues; Música original: César Prata; Design tipográfico: Jorge dos Reis
Sinopse:Num sítio lindo, algures nas entranhas de uma montanha, vivia um homem que tinha medo do mundo. Dizem que lhe fora mal apresentado na primeira vez que de lá saíra. Depois, voltou a casa para sempre.(...)Fugia nas ceifas e nas matanças, mas gravava nas pedras as suas datas. Não ia aos enterros, mas esculpia nas paredes os nomes e as datas dos defuntos. Não repartia a alegria ou a tristeza das boas ou más colheitas, mas registava os seus resultados. Ninguém conhecia o que lhe ia na alma, mas ele escrevia-o – "um bando de passarinhos"
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5. "Sabugueiro, Verão, 1050m", Portugal, 1994, 12’ –
de António João Saraiva
Sinopse: È Verão na Serra. Os dias são mais longos. Os pastores sobem para os andares superiores da serra onde encontram pastos para as suas ovelhas. O centeio continua a marcar o quotidiano das populações que habitam estas regiões mais altas.
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6. "Gente de Fajãs", Portugal, 2009, 59’, cor - Realização: António João Saraiva
Sinopse: Nas fajãs (Açores), vive-se entre a beira-mar e as falésias… entre a partilha e o silêncio… entre a música e a fá… As pessoas tomam o seu tempo…
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7. "Cordão Verde", Portugal, 2009, 33', (seleccionado para 62º Festival de cinema de Locarno)
de Hiroatsu Suzuki e Rossana Torres
Sinopse: a extensa cintura de baixas serranias que liga a costa ocidental portuguesa do Alentejo à bacia do Rio Guadiana, entre Odemira, Monchique e desfiladeiros do Caldeirão, é o local de reunião e ponto de equilíbrio entre o Homem e a paisagem cultural. Neste território, tão rico em beleza natural e recursos, o
tradicional modo de vida comunitário está em harmonia com os valores ambientais e a biodiversidade. "Cordão Verde"é um poema de imagem e som sobre o Homem e a Natureza.
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8. “Tourada”, Portugal, 90’, cor - Ideia Original, Realização e Imagem: Pedro Sena Nunes; Directora de Produção: Ana Rita Barata; Música Original: Fernando Mota; Fotógrafo: Tiago Marques; Produção Geral: VO’ARTE.
Sinopse: Uma vez por ano, em Agosto, as aldeias rejuvenescem. É a data em que se realiza uma tourada original, a capeia arraiana. Equipas de muitos homens, envergando o forcão, enfrentam e lidam os touros que são trazidos muitas vezes de Espanha. As aldeias competem entre si à procura da “melhor capeia do ano”. É uma festa escrupulosamente preparada e tão esperada por aquelas bandas como o Natal. É a capeia que reúne de novo as aldeias e que lhes traz a alegria de outros tempos. Sete aldeias. Sabugal. Beira Alta.
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“Há um défice de transmissão de experiências, falta tempo…
Estamos num momento de palavras ligeiras,
sem consequência, que podem ser desmentidas no dia seguinte.”
Erri de Luca (escritor)
Aceitei com gosto o desafio de propor uma pequena programação para o Festival Cinema – Olhares sobre o mundo rural. Neste sentido, propus um cruzamento de olhares sob as temáticas da memória e da fronteira, onde deixo que os meus filmes Da pele à pedra e Tourada, integrados no projecto MicroCosmos – um filme por província portuguesa, habitem o território entre os outros dois que escolhi: Mulheres da Raia de Diana Gonçalves e La Esquina del Tiempo de Carla Alonso.
Num tempo marcado pelos desencontros e contrariedades, pela mobilidade das ideias e das pessoas, pelo poder das imagens, pelo labirinto das crises, pela solidariedade global, pela pobreza, é conveniente reflectir e confrontar experiências de aprendizagem.
É a memória que nos dá significado ao quotidiano e a experiência que gera novas ideias e tomada de decisões. As Memórias despendem energia, recordamos memórias detalhadas ou gerais, mas todas convergem para a base do nosso conhecimento. Já a fronteira que pensei representa o limite emocional e territorial do diálogo entre espaço e memória.
Olhar para estes filmes, implica a descodificação paralela dos seus discursos e o armazenamento e a aquisição das suas interpretações. As experiências consolidam-se e são evocadas através da memória. Estes filmes são representações de lugares físicos e sociais.
Precisamos que uma geração conte à seguinte a sua experiência, mesmo que seja uma experiência menos fácil. Temos a necessidade de avivar a memória para encontrar a nossa identidade. Precisamos que estes relatos envolvam também o corpo. Contar a vida faz parte do processo de memorização.
Vivemos num tempo em que a televisão nos permite recordar acontecimentos, mas isso não é um trabalho sobre a memória, é mais uma revisita a um acontecimento ou a consulta de um arquivo. A memória é sobretudo voz e o documentário foca-nos na sua construção.
A memória pertence ao corpo, promove encontros e desencontros, é a revelação do conhecimento. A fronteira é tangível e tem a capacidade de dividir. O que se espera é que cada um pesquise sobre estes filmes e discorra sobre um campo aberto.
O cinema não deve ser uma invasão efémera, tem de deixar um rasto, uma marca, uma inscrição, um percurso, um sinal diferente. Há quem considere ilusório pensar que podemos construir a memória, mas este é seguramente o desafio que Vos deixo: construir o cinema é construir a memória através do olhar.
Pedro Sena Nunes
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Ficha:
Organização: Cineclube da Guarda e Associação Luzlinar
Coordenação geral: António Godinho Gil
Apoio à programação: Pedro Sena Nunes
Grafismo: Tiago Rodrigues
Apoios: Trancoso eventos e Instituto Português da Juventude
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